A Justiça Brasileira – Grande, Cara e Pouco Eficiente

O Poder Judiciário brasileiro é um verdadeiro gigante. Sua estrutura é tão complexa que não existe nada parecido em outros países. Está espalhado por todo o país, com órgãos na União e nos 27 estados da federação. São muitos tribunais, cargos e repartições que, ao longo do tempo, aprenderam a garantir fatias cada vez maiores do orçamento público.

Na prática, essa estrutura virou um “mastodonte administrativo”, ocupa espaço, gasta muito dinheiro, contrata milhares de pessoas — inclusive muitos indicados por influência política — e nem sempre entrega serviços de qualidade para a população.

Para se ter uma ideia, nos países desenvolvidos o Judiciário consome entre 0,15% a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, esse número chega a mais de 1,4% do PIB — ou seja, três vezes mais do que o normal.

Vamos aos números:

  • PIB estimado em 2024: R$ 12 trilhões
  • 0,5% do PIB (referência internacional): R$ 60 bilhões
  • Gastos no Brasil com Justiça Federal: R$ 93,6 bilhões
  • Gastos com Justiças Estaduais: R$ 77,5 bilhões
  • Total gasto com o Judiciário: R$ 171,1 bilhões (ou 1,42% do PIB)

É muito dinheiro. E parte dele vai para estruturas que não existem em nenhum outro lugar do mundo. Por exemplo, temos cinco “Justiças diferentes”: Justiça Federal, Estadual, Eleitoral, Militar e do Trabalho. Em vários países, tudo isso é resolvido por um único sistema de justiça.

O resultado? Um sistema pesado, caro e pouco eficiente, que consome recursos que poderiam ser usados em saúde, educação e segurança. Em 2025, só a Justiça Federal deve consumir quase R$ 100 bilhões — um valor que merece, no mínimo, debate público e mais transparência.

A tabela mostra como esse dinheiro está sendo gasto, e por quem.

Orçamento da Justiça Federal e MPF – ECO SISTEMA FEDERAL

PODER JUDICIÁRIO2025
Superior Tribunal Federal953.887.7058
Superior Tribunal de Justiça2.247.534.274
Justiça Federal + 1 ao 5 Região (1)17.214.461.661
Justiça Militar803.257.033
Justiça Eleitoral + 27 TREs (2)11.298.228.878
Justiça do Trabalho + 24 TRTs (3)30.479.055.568
Conselho Superior de J Trabalho2.594.474.843
Justiça D. Federal e Territórios4.083.171.539
Conselho Nacional Justiça318.967.069
Defensoria Pública Federal831.769.782
Ministério Público Federal9.903.319.884
Ministério Público Militar372.693.532
Ministério Público DF e Territórios1.277.453.104
Ministério Público do Trabalho2.508.967.103
Escola Superior do MPF41.229.243
Conselho Nacional do MPF123.194.230
Total93.636.656.824

Fonte: Orçamento Federal Ministério da Economia 2025

(1) TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4A. REGIÃO – 588.303.026

(2) TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA – 270.302.772

(3) FUNDO PARTIDÁRIO – 1.328.764.722

(4) TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12A. REGIÃO – SC – 1.025.773.030

ECO SISTEMA ESTADUAL

ÓrgãoAno 2025%
Tribunal de Justiça (40 circunscrições, 112 comarcas)3.313.339.615 
Fundo de Reparelhamento733.097.892 
Subtotal4.046.437.50770,73
   
Ministério Público1.377.035.154 
Fundo bens lesados21.481.500 
Fundo Especial522.000 
Fundo Modernização106.277.796 
Subtotal1.505.316.45026,31
   
Defensoria Pública166.505.000 
Fundo de Aparelhamento da Defensoria Pública2.450.054 
 168.955.0542,96
TOTAL JURÍDICAS5.720.709.011100,00

FONTE: LOA/ALESC

E o caso de Santa Catarina?

Santa Catarina, um estado conhecido por sua organização e força produtiva, não foge à regra quando o assunto é o tamanho e o custo da Justiça.

Em 2024, o PIB catarinense foi de aproximadamente R$ 428 bilhões. Segundo dados recentes, os gastos do estado com o sistema de Justiça (Tribunal de Justiça, Ministério Público e Defensoria Pública) representam 1,33% desse valor. Isso significa que mais de R$ 5,7 bilhões foram destinados apenas para manter essa estrutura — um percentual pouco menor que a média nacional (1,42%), mas ainda muito alto se comparado com padrões internacionais.

É importante lembrar: em países desenvolvidos, esse índice costuma ficar abaixo de 0,5% do PIB. Ou seja, Santa Catarina gasta quase três vezes mais do que o razoável, mesmo sendo um estado relativamente bem administrado.

Essa realidade mostra que não se trata de um problema isolado, mas sistêmico. A estrutura judiciária brasileira, mesmo nos estados com melhor desempenho econômico e institucional, é cara e pouco enxuta. Isso exige reflexão, coragem para propor mudanças e, principalmente, transparência sobre onde e como esse dinheiro está sendo usado.

A sociedade catarinense — que tanto contribui para o desenvolvimento do Brasil — merece uma Justiça mais eficiente, mais simples e muito mais conectada com os interesses da população.

Informação Relevante:

RLD = Receita Líquida Disponível, base de cálculo de repasse de duodécimos aos Poderes, MPSC, TCE e Udesc em Santa Catarina. É a receita do Tesouro, sem receita previdenciária, já deduzidos repasses aos municípios e ao Fundeb. 

Das RLD a divisão atual é: 4,34% para a Assembleia Legislativa (Alesc); 1,66% para o Tribunal de Contas do Estado (TCE); 9,41% para o Tribunal de Justiça (TJSC); 3,98% para o Ministério Público (MPSC); 2,49% para a Udesc.

AVALIAÇÃO DA JUSTIÇA BRASILEIRA

No indicador JUSTIÇA CRIMINAL do WJP Rule of Law Index 2021, o Brasil ocupa a 112 posição num ranking de 139 paises. Entre os medidores avaliados estão a “efetividade das investigações, a duração do processo, a capacidade de prevenção criminal, a imparcialidade do sistema de justiça, a ausência de corrupção e o respeito ao devido processo legal. Em primeiro lugar está a Noruega, seguida da Finlândia, Dinamarca, Áustria, Suécia e Alemanha.

Fonte: https://worldjusticeproject.org/rule-of-law-index/factors/2021/Brazil/Criminal%20Justice/