CONVERSAS LIBERAIS – CONSERVADORISMO
Muitos leitores acham que o Conservadorismo é uma doutrina política. Quando afirmo que existem apenas dois sistemas políticos no mundo ocidental – liberalismo e socialismo – retrucam que há pelo menos mais um – o conservadorismo.
Para entender bem o que seja “conservadorismo” temos que recepcionar as tradições em duas frentes – o Conservadorismo Social e o Conservadorismo Político.
Ser conservador social é se opor às mudanças radicais no âmbito das relações populacionais, relutar ou mesmo não aceitar “inovações” morais, sociais, religiosas, comportamentais, ser apegado às tradições. Assim no plano da sociedade um conservador é o que defende a família tradicional, a religião, os usos e costumes das etnias, tradições de um povo, os brasões, os símbolos da Republica, entre outros. As festas de São João no Nordeste, o Sírio de Nazaré no Pará, Semana Farroupilha no Rio Grande do Sul, Procissão dos Passos em Floripa, são exemplo de eventos tradicionais populares. Todos os acontecimentos que nos remetem ao passado, à cultura de um povo, incluindo a língua, as comidas típicas, as religiões, música local, artes, vestimenta, entre inúmeros outros aspectos, são tipicamente, eventos que se enquadram dentro do Conservadorismo Social. O oposto ao conservadorismo pode ser enquadrado como uma ação “inovadora, revolucionária, vanguardista, progressista, renovador”, entre outros. Como ninguém gosta de ser tachado de “velho” o conservadorismo sofre enormes preconceitos.
O entendimento do Conservadorismo Político é mais complexo, sem conhecer as origens é quase impossível, entende-lo. Não é uma doutrina política com suas regras e pilares, o conservadorismo (alguns o chamam de conservantismo) é uma filosofia que defende a manutenção das instituições sociais e políticas tradicionais no contexto da cultura e da civilização. Assim ele tanto pode aparecer na China, em Cuba, na Alemanha ou Japão. (Quando Fidel desceu as montanhas de Sierra Maestra estava sendo um revolucionário, hoje Cuba é o que de mais conservador se conhece)
Partidos Conservadores (com este nome) existem em vários países, mas assumem a doutrina liberal com suas cláusulas pétreas – a vida, os direitos individuais, a propriedade privada, o livre comércio e a democracia.
O Conservadorismo Político tem origem em 1688, na Inglaterra, após a Revolução Gloriosa, marcando o início do período da monarquia constitucional. Até então era uma monarquia absolutista aos moldes das tantas existentes na Europa. Os ingleses foram os pioneiros em oferecer um modelo de gestão pública moderna que continua até hoje, o Parlamentarismo.
Segundo a tradição “o rei reina mas não governa” (the King reigns and does not govern) foi, posteriormente, copiado por Montesquieu, pertencente à nobreza, e oferecido aos revolucionários franceses. Estes, porém, recusaram o modelo com o rei à frente do Estado, decapitando Luiz XVI e sua esposa, a Rainha Maria Antonieta.
Edmund Burke, foi um filósofo atuante, teve tempo de ver as atrocidades da Revolução Francesa (morreu em 1797) e é considerado o pai do Conservadorismo, cujas regras são de prudência quanto às inovações, acreditam em sistema político duradouro, rejeitam mudanças abruptas de governos, aceitam alterações dentro de limites em que a sociedade não seja “surpreendida”. Burke condenou a “revolução francesa”, seus métodos de ação política, o uso da guilhotina desenfreada, baseando-se, precisamente, no modelo de seu País, o parlamentarismo em vigor, há mais de 100 anos, isto em 1789.
No plano econômico todo o conservador tende ao protecionismo, e no Brasil temos vários exemplos, os mais contundentes se encontram no campo das desonerações fiscais, (União 2022, 400 bilhões de reais, SC 2022, 6 bilhões de reais), no fechado mercado de comércio exterior. Teoricamente, sob esta óptica, um conservador é temente ao mercado livre, impensável, para um liberal convicto. Roberto Campos dizia que por causa dos conservadores, o Brasil continua no pré-capitalismo. Esta forma de pensar muito em voga no Brasil produz estragos na economia, distorce a teoria dos preços e não contribui para o crescimento econômico. Pelo menos na política econômica, é preciso rejeitar o conservadorismo.
DILVO VICENTE TIRLONI PRESIDENTE