BRASIL – DORMINDO EM BERÇO EXPLÊNDIDO
De acordo com a segunda parte do Hino Nacional o Brasil continua “Deitado eternamente em berço esplêndido” é o que pensa parte do povo brasileiro. Os amantes da nossa nacionalidade, os que nasceram, se educaram, cresceram e têm consciência da grandiosidade que nos foi legada pela monarquia sabem que o nosso poder econômico e social está muito abaixo do que poderíamos ser – uma das maiores e mais ricas democracias do mundo.
Países com características semelhantes – USA, Europa, Canadá, Austrália, e nas últimas décadas, Japão, Coreia do Sul, a própria China, avançaram em direção à geração de renda, dos empregos, incluíram milhões de pessoas no processo produtivo. São países em que as necessidades básicas da população foram atendidas – educação, saúde, saneamento e habitação. Porque no Brasil, as coisas são tão complicadas?
Quem atinge uma certa idade (ou então pelos estudos) pode olhar para trás e vivenciar as experiências dos últimos 50 anos. Em 1970, no Brasil mais de 60% viviam no campo, eram pessoas que extraiam seu sustento da terra. Era uma vida simples, de sobrevivência, a rotina compreendia levantar cedo, tomar um café “coado”, comer um pão feito pela mãe ou avó acompanhado por ovos fritos ou linguiça caseira. Concluída esta etapa a família se dividia nas atividades essenciais – dar comida e ordenhar os animais, afiar os equipamentos (enxadas, machados, facões, foicinhas de mão, entre outros), e partir para a faina do dia. Em alguns casos, conforme a distância levavam o almoço, previamente, preparado – arroz, feijão e um pedaço de carne. Não existiam os automóveis, os transportes se resumiam às bicicletas, carroças ou carro de boi, em estradas de terra batida. O supermercado está excepcional invenção americana, mesmo para uma capital, só foi conhecida em Floripa nos idos de 1983 com o Angeloni da Avenida Rio Branco. Morria-se em casa diante da família, o doente contorcendo-se em dores, a escola não era para todos, as universidades não existiam. A vida era duríssima.
Mesmo em ambiente tão hostil o Brasil seguiu seu rumo, de modelo primário exportador começamos aos poucos a introduzir as modernas indústrias consubstanciadas na automobilista, estas geraram as BRs, as SCs que cortaram o Brasil e o Estado de norte a sul. Este novo modelo industrial obrigou nossos governantes a inserir a educação de forma universal e gratuita não só a básica como a superior. A urbanização nos obrigou a novos hábitos, novos empregos, novas formas de relacionamento. Caminhamos aos trancos e barrancos com solavancos políticos, mas caminhamos.
As complexidades políticas, todavia, traduzidas em vaidades, oportunismos e sobretudo, no “corporativismo estatal”, doutrina segundo a qual as corporações incrustadas no serviço público operam com autonomia impondo os seus interesses acima das demandas públicas extraindo todo tipo de vantagens financeiras, fizeram o Brasil, escravo destes interesses cujos desafios para superá-los continuam até nossos dias. Registre-se que este modelo “monárquico” de que o Estado pertence a uma minoria é amplo e vai além das estruturas públicas.
O “nacionalismo tupiniquim” se encaixa neste modelo. Praticamos o anti-capitalismo. Há vários segmentos econômicos operando em acordo de compadrio com os políticos, sob o argumento da defesa da indústria nacional, beneficiados há anos com isenções fiscais e incentivos de toda natureza. São criadas dificuldades financeiras para a nacionalização de alguns produtos, restrições acionárias à estrangeiros, impedimentos às licitações entre outras formas de proteção. No mundo desenvolvido as taxas médias de importação giram em torno de 4 a 10%, aqui são estratosféricas 20 a 35%.
Mesmo diante destas políticas nefastas o Brasil foi capaz de inserir milhões de brasileiros no sistema produtivo, mas, suspeita-se, não fosse nossa classe política tão protelatória já teríamos atingido patamares bem melhores.
Neste início de 2021 o Brasil impaciente, inquieto, arqueado pelo peso da incompetência política espera que o Congresso Nacional finalmente, pense e haja segundo a vocação grandiosa que nos espera e não por interesses mesquinhos desprezíveis.
ADM DILVO VICENTE TIRLONI – PRESIDENTE DO MDV