MORAES COM A BOCA NA BOTIJA
A expressão “pegar com a boca na botija” significa surpreender alguém em flagrante, cometendo uma infração. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, foi nesta última terça feira flagrado em uma situação comprometedora: mais de 7 terabytes de arquivos digitais, incluindo imagens, vídeos e documentos diversos, revelaram que ele estava envolvido em “protocolos não convencionais” ou, como descreveu a Folha de São Paulo, em “um fluxo de decisões fora do rito”. Em outras palavras, Moraes pode ter cometido ilegalidades.
Não era surpresa que o ministro se tornaria alvo das críticas e ações daqueles que se opõem às suas medidas. Enquanto os eventos o beneficiavam era tido como “corajoso, patriota, defensor da democracia”, agora enfrenta um mar de críticas e, possivelmente, a perspectiva de ser julgado.
Tudo começou quando o ministro Dias Toffoli o incumbiu de abrir o processo nº 4.781, em 14 de março de 2019, para identificar campanhas de desinformação que atacavam instituições do STF e outros órgãos do governo, além de tentar influenciar a opinião pública e as eleições. Moraes, também, expandiu seu campo de ação junto ao Inquérito 4878 (milicias digitais).
Nos processos, que permanecem inconclusos há mais de cinco anos, Moraes tem visado adversários políticos do ex-presidente Lula e do liberalismo. Qualquer comentário nas redes sociais, dependendo de quem o fazia, poderia se transformar em alvo do ministro, que utilizou dois juízes auxiliares para ajudar na identificação de “criminosos” virtuais. Entre os visados estavam desde empresários como Luciano Hang, jornalistas, donas de casas, até deputados, senadores e, pasmem, Elon Musk, do X.
Nesta quarta -feira, 14 de agosto de 2024, a Folha de São Paulo divulgou mais informações dos 7 terabytes de dados, e é provável que surjam novas denúncias. A situação de Moraes é grave, e o que já se sabe sugere que, ao invés de justiça, estamos testemunhando vingança, algo inaceitável vindo do STF.
No Congresso, a oposição já está se mobilizando para solicitar o impeachment do ministro. O Partido Novo já ingressou com uma ação de “falsidade ideológica e formação de quadrilha” junto à PGR. Independentemente do resultado, a imagem do STF, que já era prejudicada, sofreu um golpe ainda maior. A primeira medida necessária é anular todas as sentenças proferidas por Moraes a partir de 2019, incluindo, especialmente, as relacionadas ao episódio de 8 de janeiro de 2023.
Como era de se esperar, ontem, 14 de agosto de 2024, diversos ministros saíram em defesa de Moraes. O Ministro Flávio Dino afirmou sentir-se impactado negativamente por acusações infundadas, Gilmar Mendes declarou que o ministro é um orgulho para o Brasil e Luís Roberto Barroso minimizou a situação, dizendo que não passa de “uma tempestade fictícia”.
Resta saber o que pensa o Brasil Democrático, os defensores da Constituição, do devido processo legal, os defensores dos direitos individuais e coletivos e sobretudo, as centenas de atingidos pelos “protocolos pessoais do ministro”.
ADM. DILVO VICENTE TIRLONI