TARRAFA AZUL X TARRAFA VERMELHA – OS VALORES DO LIBERALISMO

“Sou conservador nos costumes e liberal na economia”

O presente texto pretende explicitar o que é liberalismo e socialismo algo tão incompreendido, nos dias atuais.

Vamos entender primeiro as Formas ou Regimes de Governo, que representam o conjunto de regras políticas por meio das quais o País é Governado:

1. Republicas Presidencialistas (exemplo Brasil/USA), o povo escolhe os seus representantes para o executivo. Chamamos a isto de Regime Presidencialista, o poder enfeixado no Mandatário da nação.

2. Republicas parlamentaristas (França), neste modelo convive o presidente e o primeiro ministro. O Presidente enfeixe mais poder do que o Primeiro Ministro, o Governo é gerenciado por ambos, com funções definidas.

3.  Monarquias Constitucionais (Inglaterra), neste modelo aparece o Rei/Rainha como chefe de Estado, mas quem manda é o primeiro ministro, é quem indica o “Gabinete” que vai administrar o País.

4.  Monarquias Absolutas (Arábia Saudita), neste modelo todo o poder emana do rei, reina de forma absoluta. Era assim na França do século XVIII. Seus cidadãos devem respeito ao Governante sob pena de perderem até a vida.

5. Estados Unipartidários ou ditaduras (China, Irã), neste modelo prevalece o Partido Único via de regra comunistas, mas podem existir partidos teocráticos como no Irã. São os piores modelos posto que sobrevivem pela asfixia das liberdades individuais e coletivas.

Onde entra o Liberalismo ou o Socialismo nisso?

Para responder a esta pergunta precisamos definir os conceitos, de um lado o Liberalismo e de outro o Socialismo.

Liberalismo vem do latim “líber” que significa liberdade e o conceito tem origem na luta que os filósofos iluministas travaram no século XVIII frente à Monarquia Absolutista dos Reis da época. Naquele tempo o rei podia tudo inclusive dispor da sua vida. John Locke sintetizou a palavra liberalismo para indicar o conjunto de regras necessárias para um novo tempo. Surgiram então os pilares da doutrina consubstanciados em 5 diretrizes: direito à vida; defesa dos direitos individuais e coletivos; defesa do livre mercado; defesa da propriedade privada e Democracia. Mentalize estes valores abrindo sua mão direita.

Já o socialismo que também pode ser enfeixado na mão esquerda posto ser a antítese da mão direita, nasceu com o advento da Revolução Industrial, época em que surgiram os “magnatas das Indústrias”, ganhavam muito dinheiro e nestes tempos primitivos (1850/1900) não havia direitos trabalhistas que protegessem os trabalhadores, jornada e segurança do trabalho. Marx surgiu neste ambiente hostil aos trabalhadores propondo a doutrina marxista, um conjunto de regras utópicas, mas extremamente atraentes aos trabalhadores.

Sua teoria está baseada na “luta de classes” onde enxergou um grupo, os burgueses, que exploravam os trabalhadores. O produto fabricado era composto de horas de mão obra, mas os burgueses ficavam com a parte do “leão”,  a mais valia. A tendência era então cada vez mais um lado ficar mais rico – e, portanto, explorador – e o outro mais pobre, espoliado.

Contra isso propôs a Revolução Comunista única forma de acabar com as classes sociais e, finalmente, todos serem iguais. É preciso que se explique o que Marx quis dizer com isso. Na sua utopia achou que o fim das classes sociais levaria a um mundo que chamou de “comunismo” onde não havendo mais a luta do explorador e do oprimido, as comunidades viveriam em paz, desapegadas dos valores materiais desnecessários. Neste patamar até o Estado seria abolido. Em outras palavras voltaríamos ao primitivismo da história, à “taba indígena” onde há o cacique e o curandeiro, mas não há o poder como o concebemos.

Seguramente, Marx foi desonesto do ponto de vista acadêmico, impossível um homem que escreveu “O Capital” não saber que era impossível acabar com a lei da oferta e da procura e que a Teoria dos Preços (ainda que não tivesse sido expressa à época) é que rege o mercado.

Agora imagine os Países com a descrição feita no início deste texto – seriam eles liberais ou socialistas. Vamos jogar a tarrafa azul sobre a China, e logo aparece a contradição – ela fere de morte vários pilares do liberalismo – a vida, os direitos individuais, a democracia. Jogue agora a tarrafa vermelha sobre os USA e você verá que ela não cabe na sociedade americana, lá se respeita a vida, há liberdade.

Mas a China não é capitalista? Muitos confundem o capitalismo com regime de Governo, que não é. O fato da China permitir que o sistema de trocas se dê dentro do modelo privado, não quer dizer que abriu mão da sua unidade central de poder. Capitalismo é tudo o que converge para as leis do mercado, a oferta e procura, a teoria dos preços. Foi o que fez a China em certas regiões do País, aboliu o “Planejamento Central” e se entregou aos encantos do “mercado”. Hoje o modelo de produção é um dos mais eficientes do mundo e tornou-se o paraíso do capital. Por lá não há direitos trabalhistas, nem direitos individuais, tampouco alguém pode reclamar da poluição ambiental, ou das autoridades do País. Havendo necessidade de se afastar bairros inteiros em nome de algum empreendimento, será feito, mesmo com o chorar e o ranger de dentes. Nada de reuniões, de licenças sobre impacto de vizinhanças, de EIA-RIMA, prevalecem os interesses do capital sobre interesses individuais ou coletivos (ou se os interesses do PCC).

E onde entram os Conservadores?

Conservadorismo (ser conservador) não é regime de Governo e mais um conjunto de valores que defende a manutenção das instituições sociais tradicionais. Quando falamos de “Partido Conservador Inglês” por exemplo, é preciso focar primeiro o País e verificar que a Inglaterra professa os valores da doutrina liberal, portanto o Partido Conservador tem no liberalismo os pilares que o sustentam e nas tradições, valores que adotaram. Conservadorismo é tudo aquilo que existiu ou existe, que permanece no tempo.

Família, pátria, liberdade, símbolos nacionais, tradições étnicas, defesa da vida desde a concepção, liberdades individuais, livre pensamento, livre expressão, propriedade, culto, ir-e-vir, o direito natural à autodefesa, são parte das centenas de valores que podemos encontrar numa sociedade.

Vale observar que o conservadorismo existe tanto dentro do liberalismo quanto no socialismo. Fidel e seus companheiros quando desceram Sierra Maestra para tomar o poder, eram revolucionários, tomaram o “Governo conservador” de Fulgêncio Batista. Hoje, 60 anos depois, nada é mais conservador em Cuba do que o vetusto regime cubano.

Finalmente cabe observar a expressão “Sou conservador nos costumes e liberal na economia” indicando que o autor adota os postulados liberais (mão direita) sem abandonar os costumes e os valores da sua comunidade.

ADM. DILVO VICENTE TIRLONI – PRESIDENTE DO MDV

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