O PETROLEO É NOSSO

Estamos diante de uma grande polêmica nacional – o preço dos combustíveis. Quer o gás de cozinha, o óleo diesel ou a gasolina, os mais vistosos derivados do petróleo, todos estão pela hora da morte. Sobem quase, semanalmente, e sempre com uma boa desculpa “o preço do barril no mercado internacional e a valorização do dólar frente ao real”.

Vamos esclarecer de forma pedagógica como se dá está convergência insultuosa que empurra o preço interno dos combustíveis às alturas.

Imagine um barril de petróleo (42 galões americanos ou 159 litros) no 1º dia do mês, que custe no mercado internacional US$70,00. Suponha agora que US$1,00 valha R$5,20. Por estes valores o preço do barril chegaria na Petrobrás por 70X5,20 = R$364,00. Projete agora o final do mês, o preço do barril passou para US$80,00 e o dólar subiu para 5,40. O novo valor para a Petrobrás passaria a ser de R$432 (80X5,40). Este é o modelo de precificação dos combustíveis no Brasil, estar alinhado aos preços internacionais.

Seria uma correta política de preços da Petrobrás e do interesse do País?

Há muita polêmica em torno do assunto. Como ex-professor de Custos Industriais, guardo imensas desconfianças deste modelo. Não conheço todos os pormenores destes paradigmas, mas sei como funciona um “Sistema de Custos” de uma empresa. Na Petrobrás não deveria ser diferente. Pode-se chegar à perfeição de identificar o custo por litro em cada refinaria.

A teoria acadêmica nos remete aos conceitos de custos fixos e custos variáveis, para a fixação do preço de um produto fabricado. Estes custos são classificados em 03 grandes campos: 1. Materiais Diretos (Matéria prima), 2. Mão de Obra Direta (envolvida na fabricação) e 3. Outros Custos Indiretos (Materiais Indiretos+Mão de obra indireta+Depreciações&outros). Resulta destes 03 campos o custo de fabricação que somados aos custos administrativos, finalmente, forma o custo unitário de produção. A partir deste ponto a indústria calcula o preço ao comércio, incluindo as despesas de venda e o lucro da empresa.

Vale ressaltar que se qualquer empresa importar matérias primas ou peças diversas, terá, forçosamente, que alterar a sua matriz de custos a partir de um determinado limite, sob pena de sofrer perdas diversas, ingressar no campo dos prejuízos, colocando em risco o futuro da empresa.

A Petrobrás é uma empresa “sui generis” ela importa petróleo, mas também produz, segundo a ANP, 3 milhões de barris por dia, o que torna o País autossuficiente (consumo em torno de 3,1 milhões).  

Em 2021 importou nos primeiros 8 meses 42 milhões de barris, 178 mil barris por dia a um custo médio de US$64,28 (o preço atual é de 83,28). De outro lado exportou 336 milhões de barris cujas receitas somaram quase 20 bilhões, preço médio de US$59,35.

Há ainda o Etanol para ser considerado, uma produção nacional cujos preços deveriam se ater ao custo de fabricação nacional.

Tudo somado é possível fixar preços a partir de uma matriz de custos industriais nacional considerando-se os custos de fabricação internos e os custos das matérias primas importadas/exportadas, como se faz em qualquer indústria nacional.

De ressaltar que o alinhamento automático poderia se dar em países que não produzem petróleo como a maioria de nossos vizinhos sul americanos. Não é o caso do Brasil. Alinhamento automático aos preços internacionais é bom para a Petrobrás e, principalmente, seus acionistas, entre eles o Governo, todavia, péssimo para o País.

O Governo Bolsonaro tem insistido que não deseja manipular preços na Petrobrás, o que é saudável, entretanto, igualmente, não cabe à Estatal adotar políticas contrárias aos interesses do País, notadamente, quando há outros caminhos a seguir. Alinhamento automático é um equívoco que precisa ser corrigido.

Ao contrário de anos passados quando havia muitas dificuldades para obtenção das planilhas de custos, hoje há programas computadorizados de custos que recepcionam o custo unitário de qualquer produto ou serviço realizado pela empresa. Pode-se saber o custo de um copo d’água servido.

Esta “caixa preta” precisa ser aberta, é preciso que haja transparência. A Petrobrás vem anunciando bilhões de lucros a cada trimestre. Seguramente, muitos deles extraídos do consumidor brasileiro sem necessidade e transferidos de forma “indevida” aos acionistas da empresa. Sempre lembrando que a Petrobrás é um monopólio e como tal deveria ser tratado.

ADM. DILVO VICENTE TIRLONI – PRESIDENTE DO MDV

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