Como a própria palavra diz “conservador” é aquilo que se preserva, respeita, protege, aquilo que resiste ao tempo, que permanece. Pode ser uma pessoa, grupo de pessoas, comunidades inteiras, e também de partidos políticos que defendam o conceito e, portanto, em tese, se opõe a mudanças radicais. Por exemplo quando enxergamos movimentos de defesa da cultura açoriana, do Movimento Tradicionalista Gaúcho/CGT, Circulo Italiano, entre outros, estamos diante de ações, tipicamente, conservadoras que procuram preservar valores dos antepassados.

Via de regra encontramos escritores e jornalistas evidenciando que “Conservadorismo” é próprio do liberalismo (que chamam de direita), condenam grotescamente,  tais partidos por defenderem as tradições, os valores religiosos, a família, os símbolos oficiais da República Federativa do Brasil, a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, o Brasão da República e o Selo Nacional.

Politicamente, o “Conservadorismo” surge como oposição à Revolução Francesa. Edmund Burke, um filósofo, teórico político e orador irlandês, membro do parlamento londrino, previu que o Movimento Frances descambaria para conflitos violentos, por isso foi contra a forma como se construiu a Revolução. Burke achava que as tradições, os costumes, o “establishment” (ordem ideológica, econômica e política) ofereciam um conjunto de peças sociais que permitiriam ao Estado operá-las, influenciá-las, consequentemente, propor mudanças. Burke propunha que a sociedade poderia e deveria mudar, mas dentro de ações seguras, sem sobressaltos. Acreditava que um regime duradouro, estável, só poderia funcionar assentado nas tradições. Segundo esta visão política não existe um “Projeto Universal” de sociedade, seria algo inatingível, os povos, as tradições os costumes são diferentes. Conde Joseph-Marie de Maistre, (1753/1821) foi um escritor, filósofo, se contrapôs ao pensamento dos revolucionários franceses registrando “A Constituição de 1795 (construída pela Assembleia Nacional Constituinte) foi feita para o homem. Ora, não existe homem no mundo. Tenho visto na minha vida franceses, italianos, russos, etc., mas quanto ao homem declaro nunca o ter encontrado na minha vida“. Mas depois, John Locke resumiu de forma magistral o Liberalismo, mostrando claramente, que os revolucionários franceses não só afrontaram os conservadores monárquicos como indicaram que haveria outra forma de governar o povo – a República.

A Inglaterra tem sido propositiva em questões de ESTADO. Quando Montesquieu publicou “Espírito das Leis” obra mais famosa do autor francês considerado um dos livros fundamentais do Iluminismo, ele é a base da divisão política moderna dos três poderes, buscou inspiração no Reino Unido. Por lá, já no século XVIII, o Whig Party, era o partido que reunia as tendências liberais no Reino Unido, e contrapunha-se ao Tory Party, de linha conservadora. Whig (ou whigs) é uma expressão de origem popular que se tornou termo corrente para designar o partido liberal no Reino Unido.  Já no século XVIII, a Inglaterra operava com o “primeiro Ministro”, o rei, reinava, mas não governava. Os ingleses nos ensinaram esta lição, como quem decidia as questões do reino era o Parlamento, o rei nunca errava, tornou-se uma espécie de “santo” no meio dos debates políticos. Continua assim até hoje. Após a segunda guerra mundial o partido dos Trabalhadores (Labour Party) disputa alternância de poder com os Conservadores(Conservative and Unionist Party). O Reino Unido é governado por um sistema bipartidário, os dois principais partidos são o Partido Conservador e o Partido Trabalhista. Há ainda a forte atuação de outros partidos menores.

No plano econômico todo o conservador tende ao protecionismo, e no Brasil temos vários exemplos, os mais contundentes se encontram no campo das desonerações fiscais, (União 2017, 400 bilhões de reais, SC 2019, 6 bilhões de reais),  no fechado mercado de comércio exterior. Teoricamente, sob esta óptica, um conservador é temente ao mercado livre, impensável, para um liberal convicto. Roberto Campos dizia que por causa dos conservadores, o Brasil continua no pré-capitalismo. Esta forma de pensar muito em voga no Brasil produz estragos na economia, distorce a teoria dos preços e não contribui para o crescimento econômico.

Vale ressaltar que políticos conservadores existem também no socialismo (que chamam de esquerda). Em 1959 quando Fidel Castro desceu a Sierra Maestra em direção à capital chefiava uma revolução histórica provocando uma ruptura no tecido social e político da Ilha. Eram todos revolucionários e juntos derrubaram o regime “conservador” de Fulgência Batista. Atualmente, todos se converteram em conservadores, defendem o regime que implantaram há mais de meio século, não aceitam a modernidade, sequer discutir as questões de gênero.

Partidos Conservadores (com este nome) existem em vários países, todavia, assumem outra dimensão – passam a contar com uma “doutrina”, ou seja, passam a defender um “regime” de governo, se utilizando de uma filosofia com todos os postulados inerentes. Alemanha, França, Inglaterra entre outros contam com poderosos partidos conservadores. Nestes países “partidos conservadores”  assumem os postulados liberais.

No Brasil durante o império havia o Partido Conservador muito influente no Conselho de Ministros da monarquia. Com a República o Partido mais em evidência foi o Republicano que pouco destoava do Partido Conservador, defendiam as mesmas bandeiras.

Nos dias atuais (2023) o TSE registra 31 partidos, dos quais, 21 pelo menos são “liberais conservadores”. Há em construção outros tantos, alguns, inclusive com o nome de Partido Conservador, todos defendem em tese a vida, os direitos individuais e coletivos, o mercado livre, a propriedade privada, a democracia. Todos repudiam o nazismo, fascismo e socialismo/comunismo. Vale ressaltar o que Roberto Campos constatava – “nossos políticos são liberais na política mas extremamente intervencionistas na economia. Basta ver o que acontece se alguém resolver privatizar a Petrobrás ou o Banco do Brasil”. Como se vê há tênues diferenças entre um partido liberal e um partido conservador, ambos navegam nos postulados criados pelos iluministas que deram base à Revolução Francesa.